Medo da felicidade (Dia 3 - A reviravolta)

Dia 3

Hoje é o dia D!

Estou nervosa, ansiosa, preocupada. É um misto de sentimentos tão grande que, nem sei ao certo, o que vai cá dentro.
Ontem, antes de vir para casa, ainda fui ter com o Jim. Precisava de orientação e de alguém que me chame à razão, principalmente nestas situações, em que não consigo ser racional.
É um facto que, não consigo desligar-me do passado, mesmo que tenha consciência que alguma coisa mudou dentro de mim nos últimos três meses.
Tenho de me mentalizar que nem todos os homens são como o Jake e é neste exercício mental que tenho falhado redondamente. Resta-me ter esperança que o Steve me ajude a esquecer o mal do passado.
Pensando noutras coisas…
Vou ter de aproveitar a minha hora de almoço para fazer umas compras e quando sair do trabalho, tenho de ir a voar até casa, para ter tempo de preparar tudo.
Oito horas depois.
Saio a correr do trabalho, meto-me no carro e acelero até casa.
Ao chegar a casa, preparo o jantar e abro a garrafa de vinho para deixá-lo respirar. Ainda dá tempo de fazer a sobremesa.
Enquanto a comida está no forno, tomo um duche para relaxar.
Mudo de roupa vinte vezes. Que neura!
No fundo do roupeiro, encontro um vestido que nunca estreei. É mesmo este.
Acendo umas velas. Ponho uma música a tocar. Bebo um copo de vinho, enquanto ponho a mesa. Revejo tudo ao pormenor. Tem de estar tudo perfeito.
Recebo uma mensagem. É do Steve.
“Olá Sarah. Devo demorar cerca de 20 minutos. Até já. Beijos.”
Ok. Vinte minutos. Vinte longos minutos.
Bem…
Comida, check. Vinho, check. Velas, check. Música ambiente, check. Sobremesa, check. Sarah, de corpo e alma, check. Solto uma gargalhada.
Envio mensagem ao Jim: “O Steve chega daqui a 20 minutos. Já bebi um copo de vinho. Só me apetece roer as unhas ou fumar um cigarro.”
O Jim responde-me: “Sarah, vai correr tudo bem. Mantém a calma. Tu nem fumas e quanto às unhas… por amor de Deus. Gastas uma fortuna nelas. Poupa-as. Bebe mais vinho.”
Vou até à janela, de copo na mão, apreciar a noite na cidade.
Permaneço ali durante alguns minutos, até que o forno me dá o sinal sonoro de que a comida está pronta. Vou até lá ver se está no “ponto”. Está incrível.
Olho para o relógio e passaram 30 minutos. Sento-me no sofá, enquanto espero.
O Steve deve estar mesmo a chegar.
Já se passaram 40 minutos. Começo a olhar para o relógio a cada minuto. Estou impaciente. A que se deve esta demora?
Envio mensagem ao Jim: “Ele está 20 minutos atrasado. Achas que ele ainda vem?”
O Jim responde-me: “Claro que vai. Deve estar preso no trânsito. Sabes bem que a esta hora, é sempre complicado chegar ao destino.”

Entretanto, algures em Nova Iorque, a caminho de casa da Sarah, o Steve faz um desvio do trânsito caótico para tentar minimizar o atraso. Apesar de não conhecer o caminho, arrisca.
Vai devagar, à procura de placas que lhe deem as indicações e olhando em todas as direções.
Vira à esquerda por uma estrada com pouca iluminação e poucos metros à frente, ouve um estrondo e sente a direção do carro pesada. Encosta o carro à berma da estrada.
- Porra! Já furei um pneu. – disse o Steve em voz alta, batendo com as mãos no volante.
Saiu do carro, preparado para ir à bagageira, buscar o material necessário para trocar o pneu. Abre a mala do carro e quando estava debruçado a tirar o pneu sobresselente, alguém chega por detrás e lhe dá uma pancada na cabeça, deixando-o inconsciente e colocando-o dentro da bagageira, fugindo no seu carro.
Enquanto isso a Sarah, já bebeu três copos de vinho e comeu quase meia caixa de bombons.
Ainda não parou de trocar mensagens com o Jim, que está a tentar ao máximo que ela mantenha a calma. Afinal, se o Steve estivesse sequer a pensar em não ir ao jantar, não lhe tinha enviado uma mensagem a dizer-lhe que estava um pouco atrasado.
O Steve acorda da pancada, muito confuso e com dores na cabeça. Apercebe-se que está numa bagageira e começa a gritar e a dar pontapés.
Passados alguns minutos, o carro pára. O Steve fica imóvel. Ouve passos.
Abrem a bagageira e apontam-lhe uma arma. São dois homens que ele nunca viu. Um deles agarra-o para o tirar da mala, tapam-lhe a cabeça e levam-no para um armazém. O outro nunca deixa de lhe apontar a arma.
Ao chegarem ao armazém, sentam-no numa cadeira e amarram-no. Tiram-lhe o saco que lhe tapava a cabeça e rapidamente o Steve apercebe-se que o número de homens passa de dois para cerca de dez.
Um deles agarra numa cadeira e senta-se a poucos metros do Steve. É claramente o líder deste grupo, sejam eles quem forem, pensa o Steve.
- Steve
Hunter. – diz o líder do gang, em tom jocoso.
- É engraçado que saiba o meu nome, quando eu não tenho qualquer memória de o conhecer. – diz o Steve, em tom irritado e irónico.
- É normal que não me conheça, porque eu não faço negócios na sua área. – diz, soltando uma gargalhada. – Mas, falando do que interessa. Sabemos que o Steve é o CEO de uma empresa, muito bem cotada no mercado e com lucros milionários. Hoje surgiu uma excelente oportunidade de fazermos negócio. Queremos que faças uma transferência com as instruções que te vamos dar e talvez te deixemos ficar vivo, que tal?
- Não vou fazer transferência nenhuma e preciso que me devolvam o telemóvel.
O líder faz um sinal com a cabeça e um dos homens dá um murro no Steve. Levanta-se e afasta-se da cadeira.
- Sabes?! Não é assim que costumo fazer negócios. Não estou habituado a que me digam que não. Não é bom para a saúde de ninguém. Precisas do telemóvel para quê? Estás à espera de alguma chamada importante? – diz, enquanto mexe no telemóvel do Steve que, apesar de bloqueado, conseguem-se ver as chamadas não atendidas e mensagens não lidas.
- Nunca te ensinaram que não se mexem nas coisas dos outros? – diz o Steve.
- Não sei se és estúpido, se não tens amor à Vida ou se és corajoso. Estás em minoria, amarrado a uma cadeira, ferido e não estás armado. Faz as contas e junta-lhe as probabilidades e diz-me se vais continuar com essa atitude de herói, porque já me começas a irritar! Já agora, quem é a Sarah? Parece-me que quer muito falar contigo.
- DÁ-ME O TELEMÓVEL!!! – o Steve levanta-se, trazendo a cadeira atrás e imediatamente, vários homens vão em direção a ele para lhe baterem e o segurarem.
- Hmmm… parece-me que toquei num ponto sensível. Óptimo!
Fazemos assim… Se fizeres tudo como eu te vou dizer, eu não te obrigo a veres a Sarah morrer. O que dizes, hein? Parece-me um negócio dos diabos.
- A Sarah não tem nada a ver com isto!
- Tem, se fôr a única forma de fazeres aquilo que eu quero.
O telemóvel do Steve começa a tocar.
- Ora, ora, quem temos nós aqui!
- Eu faço a transferência. Não é preciso envolvê-la nisto. – diz o Steve em tom aflito.
- Vamos só de garantir que isso acontece mesmo.
Entretanto, a chamada da Sarah é atendida.
- Finalmente Steve! Que se passa? Onde estás tu?
- Olá Sarah. Aqui é o primo do Steve que fala. Estamos com uma emergência familiar em mãos e o Steve, como é uma pessoa incrível, veio ajudar-nos. Ele pediu-me para que caso ligasses, para atender e dizer-te isto.
- Mas o que se passa? Posso ajudar? Ele já não vem jantar?
- Ah, tinham um jantar hoje? Que chatice!!! Não, ele não vai conseguir ir ao jantar. Obrigada, mas são problemas de família e não podes fazer nada.
- Está bem! Diga-lhe para me ligar assim que possível, por favor.
- Claro que digo Sarah! Espero conhecê-la em breve.
A chamada é desligada. 


A Sarah fica completamente confusa e preocupada. O Steve está completamente irritado e nervoso.


(continua)

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