A história mais linda...

Esta é uma história, que podia até, estar relacionada com o Natal, mas não está.
Passa-se num bosque, depois do limite de uma grande cidade, numa pequena cabana, construída em madeira.
Aproximo-me, tentando não fazer barulho.
Espero não pisar nenhuma folha seca, apesar de ser uma tarefa complicada, visto o manto que cobre a terra, ser tão vasto.
Consigo chegar à janela, onde vejo a luz de uma vela, que arde, sem pedir licença, enquanto, um homem, escreve, completamente embriagado pelas palavras, que lhe saem do pensamento.
Regista, em tinta preta, num papel, aparentemente macio, as ideias que se soltam e que viajam, desde a sua cabeça, até chegarem à sua mão, que firmemente, agarra na caneta.
Tem um ar tão distante, como se estivesse num mundo paralelo a este.
Deve ser isso que acontece, quando se escreve...o nosso corpo, permanece nesta realidade, neste mundo, mas a nossa mente, começa numa viagem, sem fim.
De dentro da casa, vem um cheiro delicioso, a café acabado de fazer e um calor, que em tudo contrasta, com o que se passa cá fora, onde está um gelo e um cheiro a terra molhada.
Sinto as minhas mãos gelarem, a cada segundo passa.
Sou completamente, intolerante ao frio e tenho a sensação de que, se continuar aqui muito mais tempo, ainda morro de hipotremia.
Por entre as árvores, consegue-se ver as luzes da cidade, de longe e se olhar em direcção do céu, já vejo a Lua a espreitar.
Esta cabana, tem um alpendre, com uma cadeira de baloiço e parece, que consigo imaginar, as horas que ele passará aqui, olhando a cidade.
O que será que lhe passa pela cabeça?
Curiosidade? Medo? Indiferença? Desprezo?
Será ela a musa, dos seus textos?
Este frio, que não cessa! Já não sinto as mãos.
Esfrego-as, na tentativa desesperada que aqueçam.
Quando menos espero, oiço a porta da rua abrir e não faço ideia o que fazer.
Que irá ele pensar de mim? Será que devo fugir?
Será que já me viu, pela janela?
Ai, que ódio! Que descuido!
Viro-me de costas, para não ter de enfrentar, o seu olhar curioso.
Eis que oiço:
- Posso ajudá-la? - diz ele, num tom preocupado e inquieto.
Mordo a língua, na esperança, que a dor me traga a resposta ou a desculpa...a justificação da minha presença.
Ele viu-me, de certeza, da janela.
Volto-me e respondo-lhe:
- Sim, talvez, possa ajudar-me. Perdi-me, pouco depois de entrar no bosque e vim aqui ter, graças ao fumo que vi sair da chaminé.
- Porque não bateu à porta? - perguntou ele.
- Espreitei pela janela, mas achei-o tão compenetrado, que não o quis incomodar.
Entretanto, deixei de sentir os braços. Que frio terrível!
- Talvez seja melhor entrar um pouco. Acabei de fazer um café e ainda está bem quente. Parece-me que está a precisar!? - ele sorriu e reparou, que apesar de não ter nenhum cigarro aceso, o fumo que saía da minha respiração, estava para além do normal, já para não falar, da minha posição encolhida.
- Aceito o convite. Está muito frio, mas tenho de regressar, daqui a pouco. - digo eu, reticente, mas a entrar em estado de decomposição e com a forte possibilidade, de estar a mudar de côr e o roxo, não me favorece.
Entrámos... Hummm...que delicia!
Estava tão quente e nenhum café me tinha cheirado tão bem.
Enquanto ele foi encher duas canecas de café, eu discretamente, fui tentar espreitar, o que ele tanto escrevia e só consegui ver o título.
No cimo da página dizia: “Duas penas e os teus olhos”.
Parece profundo...qual será a história?
Se curiosidade matasse...já estaria morta, nem que fosse de frio!
Sorri, parecia uma maluca e se ele me visse, era decerto o que iria pensar de mim.
Tem uma pequena lareira acesa e foi da chaminé da lareira, que vi sair o fumo.
A cabana é bastante acolhedora!
Gostei especialmente do cadeirão vermelho, junto da lareira.
Ele aproximou-se, para me dar a caneca do café.
- Aqui tem, bem quente! - disse, enquanto se sentava na cadeira, onde estava a escrever.
- Obrigada! - respondi.
Queria perguntar-lhe, sobre o que estava a escrever, mas faltava-me a coragem.
Sentei-me no cadeirão vermelho e olhei em volta. As paredes estavam recheadas, de fotos a preto e branco, de paisagens, das árvores do bosque, de animais, da vista para a cidade, de caras desconhecidas e dele.
- É a primeira vez, que vem aqui, presumo. O que acha do bosque? - perguntou ele, depois de beber um pouco de café e de organizar as folhas, que tinha sobre a mesa.
- É sim!... Não conheço o bosque, mas acho-o fascinante, apesar de ter ficado um pouco assustada, quando me perdi. - menti...menti com todos os dentes que tinha. Já lá tinha estado, mais duas vezes e depois da primeira, só voltei, por causa dele.
A primeira vez, lembro-me, como se tivesse sido hoje... Estava ele na margem de um riacho, um pouco mais abaixo da cabana, pensativo e a atirar pedras à água, como fazem as crianças.
Aquele ar enigmático, cativou-me a atenção.
- O bosque é bastante diferente da cidade. Aqui não há indicações, não há setas no chão, nem polícias sinaleiros. É preciso estar-se atento a outro tipo de sinais. Acho curioso, uma rapariga da cidade, querer vir sozinha aqui, ainda mais, não conhecendo os cantos à casa. - disse-me, levantando a sobrancelha.
Detesto que me levantem a sobrancelha, mas o facto de ser ele, por alguma razão, não me incomodou.
- Desde pequena, que me dizem, que sou uma aventureira. Além disso, vi os filmes do Indiana Jones e as engenhocas do Macgyver. - disse-lhe, soltando uma gargalhada estridente, à qual ele retribuíu de igual forma.
Fica-lhe bem, a felicidade!
De repente e antes que ele dissesse alguma coisa:
- Quando cheguei perto da cabana, olhei pela janela e vi que escrevia. É escritor? - perguntei-lhe, sem lhe dar tempo sequer para respirar.
- Sou. Estou a escrever o meu segundo livro. Vou na segunda tentativa, porque a primeira, não correu nada bem! - desabafou, com um sorriso nos lábios.
- Romances? - perguntei. Deve ter soado, a interrogatório policial.
- Sim...romances! Sou um romântico, lamechas e incompreendido, na maior parte das vezes. - respondeu-me, em tom de gozo.
- Quem não é?! - lancei-lhe a pergunta retórica, enquanto me levantava.
- Já vai embora? - perguntou-me.
- Sim, tenho de ir. Preciso que me ajude a sair daqui, se não se importar.
- Não, de forma alguma. Levá-la-ei até ao final do bosque, até achar que consegue regressar a sua casa, sem se perder.
- Agradeço-lhe a gentileza.
Saímos da cabana e no caminho, não dissemos muita coisa.
Quando chegámos ao final do bosque, perguntei-lhe:
- Depois desta aventura, vai dizer-me o seu nome?
Ele aproximou-se e respondeu-me em jeito de segredo, dizendo-me que seria sempre bem vinda...sempre que me quisesse perder.
Dei-lhe um beijo e deixei a promessa que regressaria, assim que fosse oportuno e afastei-me, regressando a casa e deixando para trás, outro mundo.
Nos dias seguintes, não consegui deixar de pensar nele e da janela do meu quarto conseguia ver o início do bosque. Sentia que havia um íman a puxar-me para lá ir novamente.
Passou uma semana e decidi fazer um bolo de laranja, para lhe levar, na esperança que o lanche, fosse acompanhado de uma boa conversa.
Nessa tarde, lá fui eu, qual capuchinho vermelho, com o cestinho, para ir levar o lanche ao doce lobo-mau.
Fiz-me, pelo caminho, milhões de perguntas. Será que ele queria, realmente, que eu voltasse? Estaria a agir correctamente ao voltar? O que me estava a passar pela cabeça?
Quando cheguei à entrada do bosque, parei, respirei fundo e fui em frente, até chegar à cabana.
Estava tudo muito silencioso. O único som que se ouvía, era o vento, que fazia abanar os ramos das árvores gigantescas e que soprava as folhas secas do solo.
Era sem dúvida o Outono em todo o seu esplendor!
Bati à porta três vezes e olhei pela janela...não estava!
Resolvi num ápice, ir um pouco mais abaixo, ao riacho, onde o vi pela primeira vez.
Olhei e não o vi.
Comecei a ficar cabisbaixa e pensativa, quando de repente, começo a ouvir passos a aproximarem-se e eis, que me viro e deparo com um sorriso...lindo!
- Que andas a fazer por aqui? - perguntou-me, enquanto me beijava a face.
- Vim ver os animais do bosque, mas parece-me que fugiram todos do frio! - disse-lhe em tom de gozo.
- Não são os únicos... Pensei que não voltasses! - pôs-me no lugar...a mim e às minhas piadinhas.
Pensou...pois pensou! Mas não tinha nada que pensar...se eu disse que voltava, não é?
Também não podia esperar outra coisa. Que estava eu à espera?
- Pois! Mas voltei. Como vês, aqui estou e até trouxe um doce, para acompanhar o teu café, que é uma delícia. - respondi-lhe um pouco irritada.
- Parece-me que estás com sorte! - sorriu e virou-se em direcção à cabana.
- Estou com sorte porquê? - perguntei.
- Fiz café hoje pela manhã e esse doce, veio mesmo a calhar.
Insolente, mas sexy...que hei-de fazer?!
Ao chegarmos à cabana, pôs logo o café a aquecer.
- Vou buscar lenha para acender a lareira. Já começa a arrefecer! - disse-me, enquanto eu pousava as minhas coisas, no cadeirão vermelho.
Lanche a dois, com a lareira acessa e a minha mente vagueia...pensamentos profundos.
Em que estou a pensar?
Que estupidez! Eu nem sou nada destas coisas, mas ele tira-me do sério.
Vou começar a preparar a mesa, para evitar, pensar em tolices.
O café já está quente e cortei o bolo em fatias. Está com óptimo aspecto!
Os meus dotes culinários estão, sem dúvida, a melhorar.
Ele entra com a lenha e começa, todo o processo para acender a lareira.
- Alcança-me os fósforos, por favor! - pediu educadamente.
Apresso-me em atender ao seu pedido e observo atentamente, para aprender.
- Que bom aspecto, tem este bolo. Onde o compraste? - pergunta idiota que me fez.
Fiquei com a nítida sensação que a fez, somente para me irritar, mas para perguntas idiotas, dão-se respostas idiotas.
- No supermercado, comprei os ingredientes e depois foi com a ajuda da varinha mágica e das fadas madrinhas. - respondi-lhe, eu e o meu humor sarcástico.
Já tentei perder esta mania. A mania de dar respostas sarcásticas, tantas vezes condenadas pelos outros, mas é pura e simplesmente, mais forte do que eu.
- Fizeste-o para mim?! Não pensei, que já merecesse tanta atenção. Fico contente. - sorriu o maldito.
Com aquele sorriso, derreto-me. Fico... nem sei como fico!
- Merecer...merecer, não mereces!(soltei uma gargalhada) Mas eu sou simpática e quis retribuir-te, o que fizeste por mim da última vez. - a bela da minha resposta.
Mandou-me um olhar daqueles. Aqui há faísca! *Chemistry, pure chemistry!*
Foi o melhor lanche da minha vida e nada me fazia adivinhar o que iria acontecer a seguir!

Comentários

Unknown disse…
Tânia, posso ser teu amigo?
que história linda, bem escrita, com tudo o que eu gosto numa história, tudo não faltou um fim inesperadamente patético, tipo:
quando lhe ia a entregar o docem escorregou e caiu desemparada em porra nenhuma....
desculpa Tânia é mais forte que eu..
está brilhante, beijo.
Moon* disse…
Toda a história que se preze, tem de ter um fim patético, senão não era uma história, mas sim um patético retrato da realidade.
Amigo... claro que podes ser meu amigo! ;)
Não pode ser brilhante... o pirilampo está de folga...
ihihihihi

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