Party animal!!!

Está um dia lindo!
Um tremendo céu azul e um calor abrasador.
Convidaram-me para uma festa em casa de um amigo, que tem uma piscina fantástica e vão lá estar muitas pessoas que conheço.
Vou tomar um banho e entretanto decido se vou ou não.
Ando um pouco sem vontade para socializar, especialmente, quando envolve um grande aglomerado de pessoas, num dia de calor.
Ando numa má fase... Tudo corre mal... o Amor, o trabalho, a Vida... é um cansaço!
Não tenho paciência para a família, nem para os amigos.
Optei por me refugiar em mim e poupar os outros da péssima companhia em que me tornei.
O meu telemóvel tocou logo de manhã, com a voz do Francisco, do outro lado:
- “Bom dia amigaaaaaaaaaaa! Bem disposta?”
- “Bom dia Pakiko. Ainda estou a dormir. O que queres a estas horas?”
- “Beeeemmmm... que disposição invejável. Desculpa acordar-te, mas como não respondes às minhas mensagens, resolvi ser mais agressivo e ligar-te.”
- “Se me estás a ligar por causa da festa em tua casa, perdes o teu tempo. Gosto muito de ti, mas não vou.”
- “Não digas que não vais Maggie. Já andam todos a perguntar o que é feito de ti. Os teus amigos têm saudades tuas. Já está na hora de saíres da concha, onde te enfiaste.”
- “Qual concha? Apenas não quero estar com muitas pessoas e muito menos, quando essas pessoas conhecem o Rodrigo e se vão juntar todas numa festa, onde existe a possibilidade de o ver e neste momento, sabes bem, que não estou em condições para que isso aconteça!”
- “O Rodrigo não está cá!... Parece que foi de férias. Foi o que disse o Luís, que como sabes é o melhor amigo da criatura.”
- “Mesmo assim, não sei!”
- “Não vou insistir mais, Maggie. As portas da minha casa estão sempre abertas para ti, portanto, serás mais do bem vinda.”
- “ Obrigado Pakiko. Gosto muito de ti. Já tenho saudades das nossas maluquices, mas ainda não estou bem. Beijinhos.”
E foi assim que acordei hoje. O Pakiko conseguiu por a minha cabeça a funcionar a 1000/hora logo de manhã.
Acabei de preparar um banho com sais, acendi umas velas com cheiros de frutos, vou pôr uma musiquinha e vou mergulhar na minha banheira.
Veiem-me à cabeça mil imagens e todas relacionadas com o Rodrigo. Já lá vão três meses, desde que acabámos a nossa relação de 2 anos, com promessas de ser eterna.
Por vezes penso, se não somos todos uns idiotas, quando em pleno século XXI, ainda acreditamos nessas balelas de amor eterno, quando é cada vez mais curto e sofre de ataques de ansiedade e claustrofobia.
A minha mãe, por vezes diz-me:
- Margarida... filha, não podes ter uma visão tão pessimista!
Ao que eu prontamente lhe respondo:
- Posso mãe, porque o sinto, com uma intensidade brutal, na pele; portanto posso ser completamente pessimista. Estou cansada, sabes?
O Rodrigo, quando namorávamos, dizia-me vezes sem conta que queria que eu fosse a mãe dos seus filhos, a mulher com quem se iria casar e passar o resto da vida. Não queria outra pessoa para partilhar a velhice que não eu. Um dia...
Um dia acordou e achou que ainda era muito novo.
- “Maggie, quero que saibas que te adoro, como nunca adorei ninguém, mas é muito cedo para mim, para levar isto mais longe. Quero viver a minha vida e aproveitar agora enquanto posso, para viver algumas experiências que sonho desde pequenino. Coisas que não farei contigo. Não te quero magoar, porque tu és muito especial para mim. Não consideres isto um Adeus, vê antes como um Até já!”
Foi assim que o Rodrigo saiu da minha vida, pela porta da frente.
Durante o primeiro mês ainda me ligava com frequência, para dizer as saudades que tinha e de vez em quando, lá se lhe escapava um amo-te, que apressava em disfarçar, para não causar mais estragos. Tive de lhe dizer para não me ligar mais...
Já não aguentava a situação. Agora vai enviando umas mensagens, para saber como estou ou pergunta aos amigos que temos em comum, que depois acabam por me contar.
Ele não tem noção de como é doloroso para mim. Já tentaram dizer-lhe que era preferível ele deixar de ligar e enviar mensagens, mas não adianta.
Tenho um medo terrível de o encontrar. Prefiro não sair com os amigos e ficar-me pela rotina do trabalho e casa.
Não aguentaria ver o Rodrigo com outra pessoa... pelo menos agora.
Vou esquecer-me deste assunto e concentrar-me no meu banho relaxante.
Parte de mim quer ir à festa e outra só quer ficar no seu canto.
Não sei a que parte dar ouvidos.
À medida que as horas passam, não consigo acalmar o pensamento e para impedir que a minha cabeça não pense em mais nada que não seja no Rodrigo, acabei por optar ir à festa.
Arranjei-me sem grandes produções, porque não tenho paciência e fui até à casa do Pakiko.
Quando entrei, foram poucas as pessoas que reconheci. Pelos vistos, o meu querido amigo não se cansa de conhecer pessoas novas.
A casa está cheia e tenho de pedir licença para passar.
Onde anda o Pakiko?! Não o encontro em lugar algum, até que...
- Lindaaaaaaaaaaaaaa!!! Maggie do meu coração! Que saudades tuas!... Com que então não vinhas. Querias fazer-me uma surpresa, era??? - gritou o Pakiko, enquanto se dirigia a mim de braços abertos, para me dar um longo e apertado abraço.
Sabe tão bem ter bons amigos... e como eles são tão raros!
Aquele abraço... estava mesmo a precisar.
- Também tinha saudades tuas, meu Pakiko querido... muitas, muitas! A vida é assim, quando menos se espera, passa-nos as maiores e mais dolorosas rasteiras. E tu, estás bem? A tua casa está linda e cheíssima.
- Eu estou bem. As obras na casa ficaram finalmente prontas e assim já me dá um pouco de tempo para descansar. Estou estoirado! O trabalho está o caos que já sabes e na minha vida pessoal, não há novidades dignas de registo.
Estás linda, como sempre. Quem olhar para ti, não imagina os cacos em que te encontras, mas logo, logo, arranjamos um tubinho de super-cola 3 e pomos tudo no lugar. - disse-me e sorriu.
Preciso de alcool, porque falar nisto, deixa-me careta e sem disposição para festas.
- Vou ver a tua piscina e já volto. - disse ao Pakiko, enquanto me dirigia para a parte exterior da casa, para a zona da piscina.
Passei pela bandeja do champanhe e inevitavelmente agarrei no copo mais cheio (ou menos vazio) que encontrei.
Percorri o enorme jardim da casa, onde me encontrei com várias pessoas conhecidas e falei com alguns amigos.
Bebi mais uns copos de champanhe e acabei por me encontrar sozinha junto à piscina, onde se me virasse de costas para a casa, conseguia ter uma vista, sobre o rio, fantástica.
Fiquei a contemplar a vista durante muito tempo. Perdi completamente o noção de tempo. Estava noutro Mundo... completamente abstraída e absorvida, por algo, que não sei dizer.
Dei o último gole no copo de champanhe e ainda me certifiquei de que estava realmente vazio, qual alcoólica dos AA.
Vou voltar para dentro e falar mais um pouco com o meu grande amigo.
Quando estava a ganhar forças para dar alguns passos até casa, qual não foi a surpresa... o Rodrigo... era ele... e uma amiga. Uma amiga, claro.
Quase perdi a força nas pernas. Não queria acreditar.
Então mas não era suposto ele estar longe... de férias... mas que diabo!!! Que puta de vida a minha!
Comecei a andar... cada vez mais rápido, mas infelizmente, já não sabia caminhar em linha recta, nem desviar-me dos obstáculos, o que rapidamente me denunciou à pessoa, que eu menos queria.
O Rodrigo veio direito a mim, para me cumprimentar, calculo...
Só me lembro de o afastar com o braço e de correr em direcção às minhas coisas que estavam na entrada.
O Rodrigo vinha atrás de mim, a perguntar-me se estava bem e se precisava de alguma ajuda.
- Deixa-me em paz!!!... é essa a ajuda que preciso de ti... isso e que desapareças da minha Vida. DESAPARECE!!! - gritei-lhe com toda a ira que tinha dentro de mim. Estava completamente possuída... fora de mim.
O Pakiko encontrou-me pelo caminho e perguntou-me se estava bem e onde ía com tanta pressa.
- Vou-me embora Pakiko. Muito obrigado pela festa querido. Está tudo 5 estrelas... principalmente o champanhe... uma verdadeira iguaria... o mesmo não se pode dizer dos teus convidados. Até logo. Depois falamos.
Peguei nas chaves do carro e saí.
Entrei no carro e arranquei. Ao fechar a porta, ainda ouvi a voz do Rodrigo a chamar-me, mas só queria sair dali o mais rapidamente possível.
Estava tão enraivecida, que mal me conseguiam sair as lágrimas dos olhos cerrados.
Estava cega... cega de raiva e amor, numa mistura explosiva.
Pelo retrovisor, apercebi-me que o Rodrigo vinha atrás no carro dele.
Acabei por sair do alcatrão e fui “cortar relva” no primeiro descampado que encontrei.
O Rodrigo encostou o carro na berma.
O porta-luvas... há algo no porta-luvas... merda do cinto de segurança... solto-me e finalmente alcanço o porta-luvas.
- MARGARIDA!!! MAGGIE, ESTÁS BEM???
Saí do carro de rastos... bêbeda e com a maquilhagem borrada, parecia saída de um filme de terror... chorava compulsivamente.
O Rodrigo corria em meu auxílio, até que lhe disse para parar e ele... parou!
A expressão na sua cara... tão diferente. Quem és tu?!
- Quem és tu? - perguntei-lhe.
- Sou eu Maggie... o teu Rodrigo. O que se passa contigo?
- Não se passa nada!... Não vês que estou bem?... Estou óptima! Fantástica! Maraaavviiilhoooosa... lindaaaaaaaaaaa... - disse-lhe rodopiando, como um pião, em torno de mim mesma, com os braços na direcção do céu.
O Rodrigo ainda tentou nessa altura chegar até mim, até que lhe disse, para não dar sequer mais um passo.
Tinha as duas mãos firmes a agarrar a pistola, que comprei depois de ter sido assaltada, há dois verões atrás.
- Nem mais um passo, senão disparo. Vi cenas destas, vezes sem conta nos filmes. Não me ponhas à prova!
- Deixa-te de loucuras Margarida. Não há motivo, para estares a fazer esta cena.
- Não há motivo??? Não há motivo... Pois, se calhar tens razão... Não há!
Mas quem és tu para me dizeres se há ou não motivo??? Isto não é uma cena, meu querido. Não sei se percebeste, mas não estamos a ser filmados. Isto é a realidade!... é a minha realidade... e a tua realidade também e há o maior dos motivos.
- Margarida - disse, colocando-se de joelhos - não faças nada de que possas arrepender-te no futuro, por favor. Pensa em tudo o que vivemos juntos.
- Está descansado, porque não farei nada de que me possa arrepender no futuro... porque futuro... é algo que não existe para mim. - quando terminei a frase, apontei a arma junto à cabeça... fechei os olhos e premi o gatilho.
Ainda ouvi o Rodrigo a gritar e pouco mais... só uma névoa e uma sensação única de paz.
Este foi o último dia da minha vida ou pelo menos, o que me lembro dele.
Ainda me corre nas veias o champanhe do Pakiko... no coração, o amor e o ódio pelo Rodrigo e pelo rosto o meu sangue, que me nasce na cabeça.

Comentários

MIG-L disse…
Gostei mto do que li. Tb por vzs páro e relembro "vidas passadas".
Ums vzs é bom, outras nem tanto.

Uma beijoca boa.

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