Vida d'homem

Estou a cair de bêbedo...
- Epá, ó Daniel... levanta-te! Vem apanhar ar! - grita o filho da mãe do João que me trouxe para aqui.
O João ligou-me à hora de jantar e a conversa foi mais ou menos assim:

João - Então pá, já te levantaste do sofá?
Eu - Não! É mesmo aí que estou e estou muito bem.
João - Tás feito um lamechas. És mesmo um menino. Esquece lá isso.
Eu - Ai sim? Quando te aconteceu o mesmo há uns anos atrás, não pensavas assim.
João - Isso já lá vai... já esqueci!
Eu - Então... agora é a minha vez de me darem tempo de esquecer.
João - Estou a ligar-te porque o pessoal vai sair todo hoje. Gostavamos que viesses. Já chega de tragédia, ok?
Eu - Não estou com disposição.
João - Anda lá... pagamos-te uns copos para afogares essas mágoas.
Eu - Não, acho que não...
João - Vem! Vamos fazer as loucuras que fazíamos há 4 anos. Eu passo aí para te buscar às 23h.
Eu - Já disse...
João - Vá até logo!
Desligou.

O João sempre foi assim. Quer tudo à maneira dele e “AI” de quem lhe diga que não. Simplesmente, não aceita.
Que me lembre nunca fiquei assim. Estou quase irreconhecível....
De manhã quando me vi ao espelho, depois de uma semana, sem o fazer, enfim...
não me reconheci. Acho que cheguei a tocar no espelho e em mim, para ver se eramos o mesmo.
A barba está enorme, o cabelo já tem uns nós e o aspecto... horrível.
Ía morrendo com o meu próprio bafo. Completamente deprimente. De qualquer forma, essa visão não foi o suficiente para me tirar deste buraco onde me coloquei.
Passei o dia no sofá a “bezerrar”, ou seja, não fiz nada. Passei o dia lamentar-me dos males da minha Vida.
Tenho que concordar com o João, que isto não é viver... é mais sobreviver.
Ando nisto há semana e meia e desconfio, que vai durar mais algum tempo.
Sempre fui desastrado. Estragava tudo em que tocava. Tenho um talento nato para cometer erros, uns atrás dos outros e só dou conta, quando já não há nada para fazer.
Para mim é dificil tocar neste assunto, mas se não tocar vocês não entendem o que me aconteceu e vão achar que eu sou parvo.
Namorava com a mulher da minha Vida, na verdade, até já estávamos noivos, coisa que achei durante bastante tempo que era apenas um pormenorzinho sem importância.
Sou publicitário e muitas vezes trago trabalho para casa.
Passo noites ao computador, já que essa é a minha ferramenta de trabalho. Até aí, normal...
De vez em quando tinha uns trabalhos bastantes complicados. Obrigavam-me a longas horas de brainstorming, a penicos de café forte e de algum entretém pelo caminho, para aliviar a cabeça.
Pode dizer-se que arranjei o pior entretém possível, mas vindo de mim, já era de se esperar.
Depois de um dos jantares da empresa, fomos sair para o Lux e foi lá que conheci a Marlene, uma amiga da Sara que é a nossa copywriter.
Bem, a Marlene é um avião. Aliás, é mais do que um avião, é um porta-aviões. Perfeita!
A Marlene andou a fazer-se a mim a noite toda. Vinha dançar para o pé de mim. Roçava-se com alguma frequência. Acho que comecei a suar.
Tive que lhe pedir licença e fui apanhar ar para a varanda.
Meu Deus! O que é que se passa?
Daniel, concentra-te! Concentra-te! Quando olhares para a Marlene pensa na tua sogra, que já tem falta de dentes.
Olhei para trás e lá vinha ela em direcção à varanda.
Ok, tenho mesmo de fugir. Fui à casa de banho e acabei mesmo por me ir embora.
Quando cheguei a casa, a Andreia dormia serena na nossa cama. Não era um porta-aviões, mas era linda.
Tapei-a com os cobertores e dei-lhe um beijo. Deixei-me ficar a olhar para ela e acabei por adormecer, vestido e tudo.
No dia seguinte, acabámos por discutir, porque ela achou que eu tinha chegado completamente bêbedo a casa e por isso nem tinha tido forças para me despir, enfim... não contrariei muito... não vale a pena. Ela tem de ter sempre a palavra final, portanto ficámos assim.
Passados uns dias, estava no escritório a acabar uma campanha para um cliente de uma multinacional, estava a trocar umas ideias pelo messenger, com um colega meu de universidade que tem uma empresa dele, quando me aparece a Marlene que me queria adicionar.
Fiquei a pensar se aceitaria ou não. Depois pensei que como não a estou a ver, não pode fazer muito mal.
Adiconei-a.

Marlene - Olá lindo!
Eu - Olá!
Marlene - Foi impressão minha ou fugiste de mim no outro dia?
Eu - Não fugi... porque haveria de o fazer. Não me estava a sentir bem e fui-me embora. Desculpa não me ter despedido.
Marlene - Ainda bem que não te despediste, assim para me recompensares da falta de educação, combinamos outro copo... só os dois, um dia destes.
Eu - Não me parece boa ideia!
Marlene - Porque não?
Eu - Marlene eu estou noivo!
Marlene - Ainda bem! Não te estou a pedir em casamento. Os meus Parabéns! Vais convidar-me para o casório?
Eu - O que é que tu queres de mim?
Marlene - Quero-te... todo!
Eu - Marlene...
Marlene - Foste tu que perguntaste. Não me sais da cabeça desde que nos apresentaram. QUERO-TE!
Daniel goes offline

O que é isto? Só pode ser uma partida!
Devem estar a gozar comigo.
Esta mulher é o diabo!
Foi assim que tudo começou...
Da vez seguinte estava em casa. A Andreia tinha ido a um aniversário e eu fiquei a trabalhar.
Estava no messenger e eis que:

Marlene is online

Marlene - Antes que fujas...
Eu - Olá! Não vou fugir. Estou a trabalhar e preciso do messenger.
Marlene - Tenho uma coisa para ti.
Eu - Diz.
Marlene - Tens webcam?
Eu - Tenho.
Marlene - Eu também. Liga a tua!
Eu - Para quê? O que é que se passa?
Marlene - Não faças perguntas. Liga lá isso! Eu volto já.
Eu - Já liguei. Não vejo nada...
Fiquei alguns minutos à espera. Não sabia o que é que esta maluca queria mostrar-me.
De repente aparece-me com uma lingerie preta, com rendas, completamente louca.
Oh meu Deus!
Eu - Marlene! O que é que estás a fazer?
Marlene - Descontrai e aproveita!
A webcam estava na direcção da cama onde ela se deitou. Olha fixamente a câmara enquanto se tocava. Passava as mãos pelo corpo.
Não consegui conter-me. Tenham dó! Um homem não é de ferro!
Marlene - Não queres vir sentir-me pessoalmente?
Daniel is offline

Olhei para mim. Que figurinha! Com as calças a arrastarem no chão. Tinha o cú gelado de estar sentado na cadeira de plástico. As minhas mãos...
A Andreia estava quase a chegar. Já me tinha enviado uma mensagem a dizer que vinha para casa mais cedo, porque não lhe apetecia sair.
Apressei-me a recompor-me para não ter que responder a perguntas complicadas.
Eu continuava ACESO. A imagem daquela mulher, a fazer aquelas coisas, enquanto me olhava fixamente, deixava-me louco. Fora de mim.
Eu e a Andreia, sempre nos demos bem. O sexo sempre foi fantástico, daí não compreender porquê que esta mulher mexe tanto comigo.
Nessa noite, tive que fazer amor com a Andreia. Foi muito bom, mas de vez em quando surgia-me a imagem da Marlene.
Senti-me mal. Não podia pensar noutra quando estava com a Andreia. Ela é a única. Aquela que me preenche. A mulher que eu amo!
Passadas duas semanas, estava a sair da empresa para ir para casa.
Tinha um carro a bloquear o meu, no estacionamento.
Quando reparei era a Marlene.
Saíu do carro. Trazia um casaco comprido.
- O que é que estás aqui a fazer? - perguntei-lhe.
Ela dirigia-se a mim.
- Estou aqui para fazer aquilo que tu queres que faça!
Abriu o casaco e por baixo tinha apenas a lingerie preta de rendas.
Agarrou-me na mão e começou a percorrer o corpo dela.
Desculpem-me, mas era impossível.
Larguei a mala que tinha na outra mão e agarrei-a. Encostei-a contra a parede e não sobrou nada da lingerie preta de rendas.
Na recepção da empresa:
- Boa noite Sra. Andreia! O Sr. Daniel já saiu. Foi em direcção ao estacionamento.
- Boa noite! Muito bem qual é o piso?
- Piso -2, Lugar 33 F.
A presença da Andreia nesse piso foi de curta duração. Quando lá chegou deparou-se comigo a comer a Marlene. Que lindo festival!!!
Ainda fui a correr atrás da Andreia, para tentar explicar-lhe, mas ela meteu-se no primeiro táxi que encontrou e quando cheguei a casa, já ela não estava. Agarrou em meia dúzia de coisas e foi-se embora.
A Marlene?
Nunca mais a vi. Nem quero ver! Foi ela que me causou esta desgraça.
Aquela mulher é o Diabo!
A Andreia pediu à prima para vir buscar as coisas dela e pediu-lhe para me dizer, que as coisas entre nós estão acabadas, mas que se eu quiser falar sobre o assunto, ela um dia destes, talvez me dê essa oportunidade.
Tudo por causa de uma queca. Foi uma boa queca, mas será que valeu a pena?
Não ganhei nada e perdi tudo!
Perdi tudo o que era mais precioso para mim.
Hoje passo os dias no sofá, com a barba por fazer, um bafo que tresanda, a lamentar-me dos erros que cometi.
Estou a cair de bêbedo...
Levantei-me e fui apanhar ar.
O telemóvel tocou. Recebi uma sms.
Message send by Andreia
“Estou no sítio onde me beijaste pela primeira vez... Amei-te muito e estava disposta a partilhar o resto da minha Vida contigo... tu retribuíste-me com uma traição. P.S. - Parecias um ANIMAL, ou melhor... ÉS!”
Respirei fundo. Comecei a chorar. O João olhou para mim. Mostrei-lhe a mensagem.
Deu-me um abraço e uma palmada nas costas.
- Os teus amigos estão aqui para o que precisares.
Virei as costas e fui-me embora.
Tenho a certeza de que esta ferida vai doer durante algum tempo.

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