Em busca do vale encantado

Em que pé é que estamos?

Continuamos a pé coxinho, com medo de aprendermos a usar o outro?

Será que já aprendemos a andar com os dois pés, mas temos medo de o mostrar?

Ou será que agora que aprendemos a andar com os dois pés, queremos aprender a voar?

Já repararam, que nada é suficiente para nós?
Falta sempre qualquer coisa...
O que temos é sempre imperfeito e incompleto e o que não temos, dá-nos sempre uma vontade incrível de ter.
Andamos sempre a lutar por alguma coisa e quando a temos, esquecemo-nos dela e continuamos a lutar por uma outra coisa.
São poucos os que dão valor às coisas que vão alcançando e tentam mantê-las, porque afinal, são preciosas.
Tanto tempo foi utilizado na sua conquista. Descargas de energia e dores de barriga (nalguns casos).
O objecto do nosso desejo, está finalmente em nossa posse e nós o que fazemos???
Usamo-lo até ao desgaste, numa lenta destruição.
Devíamos cuidar dele... cuidar de todas essas coisas que nos despertam a atenção, para o possível alcance da felicidade e que tanta luta nos deram... tanto suor transpirámos, para nada... para perdermos o interesse, porque afinal, talvez, perfeito, perfeito, fosse um carroucel no céu.
Somos estúpidos e egoístas, mas principalmente, muito estúpidos, porque perdemos uma vida inteira, em busca do vale encantado, que não existe, em vez de aproveitarmos os outros vales, possivelmente, menos encantados, mas todos eles únicos.
Resumidamente... perdemo-nos ou cegamos, numa utopia, que algures no tempo idealizámos na nossa mente.
Se comprarmos um carro, queremos uma casa e quando temos a casa, falta-nos a piscina e assim sucessivamente, numa busca infinita de coisas, que na realidade só servem, para fugirmos à realidade.
A realidade é que a Vida é muito mais simples e não é preciso muita coisa para sermos felizes.
A realidade é que tantas vezes temos aquilo que mais precisamos, à frente da nossa vista ou nos nossos braços, mas numa atitude egoísta e irreflectida, deixamos fugir.

Um amor e uma cabana?
Sim, pode ser, apesar de não me importar que a cabana tenha água potável e electricidade... e já agora aquecimento central, garagem, banheira de hidromassagens, jardim, piscina, 4 quartos, uma sala de jantar, uma sala de estar, etc, etc, etc...

E assim esquecemo-nos do mais importante... o amor.
Prefiro chegar aos 60, com alguém com quem partilhar a velhice e todas as dores que vêm com ela, do que ter uma vivenda com 5 quartos e vista para o mar, só para mim.
A solidão é demasiado só para todos nós.
Digam o que disserem, todos queremos ter alguém que nos preencha... que faça vibrar todas as nossas células, que nos aqueça, quando faz frio e nos abrace, quando trememos de medo.
Alguém que nos faça sorrir e que nos apoie nas nossas escolhas e que nos ame.

Em que pé é que estamos?