The END

Enquanto Susana arrumava rapidamente as coisas na mala, Henrique olhava-a incrédulo com a sua atitude.
Susana apercebeu-se...
- Estou farta!!! Farta das tuas mentiras, das tuas atitudes, do teu desrespeito! - gritava Susana, enquanto lhe escorriam as lágrimas pelo rosto.
- Mas quais mentiras Su? Estás a delirar? Eu nunca te menti... juro pela minha mãe! - dizia Henrique, enquanto a agarrava pelos braços e a abanava.
- Larga-me!!! - soltou-se Susana - Estavas a magoar-me, não viste? Claro que não viste, nunca vês... nunca viste de todas as vezes que andaste a “flirtar” com todas as mulheres, as que conhecias e as que não conhecias e ainda mentias aos teus amigos, que te defendiam com unhas e dentes... o quanto me magoaste.
- Eu nunca menti a ninguém e muito menos aos meus amigos! Que história é essa Susana? Já me estou a passar contigo. - Henrique levanta a mão, como se lhe fosse bater, mas recua e passa a mão pela cabeça.
- Sim... aos teus amigos. Deves ter tanta vergonha das merdas que fazes que nem lhes contas e eles vêm falar comigo. Dizem-me que já há muito tempo que não te viam assim... tão feliz!!! Feliz, Henrique! Não é irónico? Tu... feliz! E continuavam... “Tu fazes-lhe bem. Sentimos que ele mudou”. - Susana ri-se.
- Estás a rir-te de quê?
- De ti! Da tua hipocrisia, do quanto fui cega e não quis ver. Do tempo que perdi a chegar aqui. Enfim, tanto tempo perdi eu contigo!
- Continuo sem saber do que estás a falar. Sabes que te amo muito e não estou a perceber esta tua atitude.
- Amas? - Susana abana a cabeça. - Tu não sabes o que é amar Henrique! Quem é que tu queres enganar afinal? A mim ou a ti? Tu não amas ninguém... nem a ti, porque não te respeitas e não respeitas os outros. As pessoas não passam de brinquedos nas tuas mãos...
- Vais continuar a delirar? Quem começa a ficar farto, sou eu, desta conversa sem nexo.
- Acredita que tem nexo. Aliás, faz muito sentido. Durante muito tempo eu tive um puzzle de 500 peças para montar, mas nada encaixava e de repente, tudo começou a fazer sentido.
- O teu cursinho de Psicologia anda a fazer-te mal... estás a enlouquecer!
- Já enlouqueci, graças a ti! Mas ok, eu faço-te a vontade.
- Qual vontade Susana? Estou a ficar sem paciência.
Susana começa a sair do quarto.
- Onde vais? - pergunta o Henrique impaciente e irritado.
- Vem comigo. Tenho uma coisa para te mostrar.
Susana entra no escritório e liga o seu computador.
- O que vais fazer agora?
- A calma é uma virtude... aprende! - diz Susana.
Susana coloca a password e aguarda. Henrique ficou à entrada do escritório, encostado à ombreira da porta.
- Vem cá...
- Fazer o quê?
- Tenho uma coisa para te mostrar. Não tenhas medo.
Henrique vai ter com Susana.
- Senta-te! - disse-lhe Susana, enquanto lhe puxava a cadeira.
- Estou bem em pé.
- Ok. Bem... há duas semanas recebi na minha conta pessoal um e-mail, com o seguinte assunto:

De: teresapggama@xpto.com
Enviado: quinta-feira, 2 de Setembro de 2007 17:13:19
Para: susanabatista@goodday.com
Assunto: O teu namorado Henrique (lê por favor)

Olá,

Desculpa estar a incomodar-te, principalmente porque não nos conhecemos, mas precisava de te contar o que se passou.
Faz hoje 1 mês que o Henrique me adicionou no “WATCH YOUR FRIENDS”.
Raramente lá vou, por isso não me dou ao trabalho de ver quem conheço e quem não conheço, porque iria demorar demasiado tempo e acabo por adicionar todos.
Comecei a receber com frequência mensagens do Henrique, com diferentes abordagens. Como não lhe respondi, pediu-me o meu e-mail e eu dei-lhe.
Começámos a falar e eu normalmente falava-lhe sobre o trabalho e alguns assuntos banais e sem importância, até que ele começou a convidar-me para ir beber café.
Fomos beber café uma vez para nos conhecermos e pareceu-me uma pessoa simpática. ( Não aconteceu nada. )
Na semana seguinte perguntei-lhe se ele tinha namorada ou se era casado e ele disse-me que não.
Alguns dias depois, uma amiga veio perguntar-me de onde é que eu conhecia o Henrique, porque tinha visto que ele estava no meu “WYF” e eu contei-lhe.
Foi aí que fiquei a saber que ele tinha namorada há 3 anos e que tinha por hábito fazer estas coisas de marcar encontros por e-mail, porque essa minha amiga também já tinha estado com ele.
Nunca mais fui beber café com ele, ou sequer lhe falei e estou a enviar-te este e-mail, porque gostaria que o fizesses por mim, se fosse ao contrário.
O teu namorado não é flor que se cheire. Desculpa estar a dizer-te isto, desta forma, mas é a verdade.
Deixo-te o e-mail dessa minha amiga, caso queiras falar com ela.
O meu telefone é o 222222222, se precisares de alguma coisa.

P.S.- Se não acreditares, tenho os e-mails todos gravados. Posso enviar-te. É só pedires.

O e-mail da Cristina é crisapisco@cricri.pt.

Não deixes que ele te faça mal...

Fica bem.
Teresa Guerra Gama

Fez-se silêncio absoluto.
Henrique ficou muito nervoso. Susana virou-se para a janela e as lágrimas voltaram a escorrer-lhe pelos olhos.
Henrique levantou-se e foi junto de Susana para abraçá-la.
Susana voltou rapidamente para o quarto, antes que Henrique tivesse oportunidade de a abraçar ou de dizer o que quer que fosse e voltou a colocar todas as suas coisas para dentro da mala.
Henrique foi atrás dela.
- Não sei como é que acreditaste naquela gaja. Ela detesta-me!
- Eu vi os mails.
- Quais mails? Os que essa maluca e amiga dela te enviaram?
- Não Henrique! ACORDA! Os e-mails que tu lhes enviaste... os que tu lhes enviaste Henrique e sabes que mais? Tenho nojo de ti! Estou completamente enojada. Sinto-me suja, porque partilhei contigo a minha cama durante 3 anos e tu andaste a partilhar a tua cama com tanta gente, ao mesmo tempo que vinhas para casa dizer-me o quanto me amavas e como eu era a mulher da tua vida.
Susana senta-se na cama e começa a chorar compulsivamente.
- Como é que eu acreditei em ti??? - diz inconformada.
- Sempre te amei! - disse Henrique.
Susana levanta-se da cama, dirige-se a Henrique e dá-lhe um estalo.
- Se me amasses, não terias feito o que fizeste. Não tinhas motivos para fazeres o que fizeste... Nunca tiveste! Espero que algum dia saibas o que é amar.
- Su, tu és a mulher da minha vida! Eu quero ficar contigo para sempre. Não acredites nessas mentiras, por favor.
- Sabes de que é que tenho muita pena?
- De quê?
- De não saber disto mais cedo, porque senão, tinha f****o com todos os gajos que me aparecessem à frente, até os teus cornos não caberem na porta de entrada. Era isso que merecias! Merecias ser corno e todos os teus amigos saberem, para se rirem de ti! És um infeliz, miserável, sem carácter, traidor de merda e não te quero ver nunca mais... nunca mais, estás a ouvir?
- Eu não te vou deixar sair daqui Susana! - disse Henrique, dando um empurrão a Susana e arrancando a mala das mãos dela, espalhando as suas coisas pelo quarto todo.
Henrique agarra-a com força.
Susana continua a chorar e a tentar soltar-se.
- Pensar que te amei tanto... Que te dei o que tinha de melhor e os melhores anos da minha vida... Que fui só tua! Sempre recusei convites de outros homens para ir beber cafés, de colegas de trabalho e até de amigos, só para não pensares, que eu poderia estar a pensar em ter o que quer que fosse com outra pessoa, que não tu.
- Tu é que não percebes que eu te amo, só a ti. Essas coisas não têm importância. Foi só prazer.
- Larga-me, por favor. Não quero estar perto de ti. - implorava Susana.
Susana consegue soltar-se e começa a correr para a porta de entrada.
Henrique levanta-se e começa a correr atrás dela. Consegue alcançá-la e atira-a ao chão.
Susana permanece imóvel.
Henrique sai de cima dela e percebe que Su já não se mexe.
Henrique vira-a e vê que lhe está a escorrer sangue da cabeça. Olha para a mesa de apoio da sala e vê sangue num dos cantos.
Tira o telemóvel do bolso e liga para o 112.
- Por favor, venham rápido... a minha namorada caiu e bateu com a cabeça, ela está a sangrar muito...
Susana mexe os olhos e olha na direcção de Henrique.
Henrique olha para ela.
- Porquê? - sussurra Susana, perdendo as forças, deixando de respirar e ficando inanimada no chão da sala, junto do seu namorado de 3 anos.
A ambulância chegou 30 minutos depois. Henrique tinha desaparecido...
Colocaram a Susana num saco preto e levaram-na.
Da esquina da Igreja, Henrique viu a ambulância afastar-se, cada vez mais, até desaparecer no horizonte.

Comentários

Rui disse…
Isto é tao logico como o lugar do passageiro de um carro é o "lugar do morto" ... morre sempre o que nao tem culpa nenhuma !

Mas tá mal porque aquilo foi uma coisa que eu combinei com a teresa gama ... era uma brincadeira ... bom temos pena ... as vezes corre mal ... oooops ! :P

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