Gostaria de voltar atrás no tempo, mas como não posso, deixem-me agradecer-vos!

Dei por mim a pensar (acontece-me muitas vezes, pela manhã ou quando deito a cabeça na almofada para dormir) que quando somos novos, percebemos muito de pouca coisa.

O que é que eu quero dizer com isto?

Somos miúdos. Achamos que sabemos tudo, mas o que é certo é que a vida é um mistério para nós. Sabemos de brincadeira, das lições nº 100, que o Nelson é o melhor a jogar à bola e quem me dera que ele um dia queira namorar comigo, que o João e a Liliana fumam às escondidas atrás do pavilhão e que Deus me livre das aulas de religião e moral, mas da vida… não sabemos nada!

E é no meio deste revival de que me dei conta, de como somos ingratos, ainda que de forma inconsciente, porque ninguém nos ajuda com a falta de noção.

Agora, adulta e mais consciente da vida, olho para trás e entendo tantas coisas que não entendia e que nem pensava nelas.

Basicamente, percebo agora os sacrifícios dos meus pais, aos vários níveis e a paciência… ah, a paciência.

Quando saíam do trabalho e ainda tinham de confirmar se eu tinha feito os trabalhos de casa. Sim, porque eu tornei-me boa aluna, mas era preguiçosa para fazer os trabalhos de casa nos primeiros anos. Tiveram de me colocar num explicador, que NOSSA SENHORA! Era um indivíduo que tinha mommy issues e descarregava nalguns miúdos. Lembro-me como se fosse hoje, que ele tinha um pisa papéis em forma de peixe, pesado como tudo e dava com aquilo nas mãos dos miúdos.

Aliás, nesses tempos, até alguns professores, gostavam de resolver temas, com uma reguada, com o apagador, etc.

Depois mais tarde, passei para a mãe dele. Numa casa antiga, com um terreno com ervas e árvores, onde brincávamos muitas vezes e uma televisão, onde ficava a ver o Guilherme Tell, à espera que o meu avô Camacho me fosse buscar.

Acho que estas experiências, de certa forma traumáticas, foram essenciais para nunca mais precisar deste tipo de acompanhamento.

Foi remédio santo! Estudava, fazia os trabalhos de casa, fui uma das melhores alunas na preparatória, no 5º e no 6º ano. Só não tive 5, adivinhem lá… A Educação física! Odiava!

Correr nunca foi o meu forte… nem ginástica. A Educação Física nestes anos, para mim, foi o equivalente a sessões de tortura, por um qualquer cartel de droga… daqueles da pesada… colombianos.

Melhorei a Educação Física, mais tarde, com os jogos de Voleibol, Badminton (todos detestavam e eu adorava), Basquetebol, etc.

Depois de ter tido uma péssima professora de Matemática no 10º ano, vi-me na necessidade de pedir ajuda a colegas no 11º ano, para estudarmos em conjunto, para eu conseguir apanhar o barco e foi o que me safou. Se não tivesse sido proativa, muito provavelmente teria reprovado.

Algures por aqui, decidi que queria seguir o curso de Design e acabei por ir estudar no IADE.

Uma universidade privada, paga mensalmente a peso de ouro e com todos os materiais necessários para os 4 anos de licenciatura. Nunca me faltou nada e nunca houve qualquer conversa sobre dinheiro nessa altura. Quando fui para os meus primeiros trabalhos, fiquei sempre com o dinheiro, para poder comprar as minhas coisas, como roupa e outras coisas que quisesse. Até mesmo durante a universidade, foi assim.

Hoje compreendo o espírito de sacrifício. Nota que “hoje” não é literalmente hoje, porque reflito frequentemente sobre as coisas e esta já tinha cruzado a minha mente diversas vezes e com um entendimento muito claro sobre o que vos estou a falar.

Hoje percebo a dificuldade que é levar o dia-a-dia com pouco tempo para tudo o resto que não seja trabalho. Ainda arranjar forças e vontade de estar comigo e com a minha irmã e mais do que isso, garantir sempre que não nos falta absolutamente nada.

Filhos são filhos e apesar de não os ter, também sei em conversas com quem os tem, de que nem sempre se está com a maior da disposição para tudo o que acontece no mundo dos pequeninos, porque no dia do adulto, cabem muitos sapos, irritações, situações extremas, cansaço, desânimo, etc.

Calma, não acontece todos os dias! Se assim fosse, tínhamos todos uma vida miserável, mas convenhamos que o comum mortal, passa por isto algumas vezes ao longo do ano.

Não dar nada como garantido. Agradecer as coisas boas e aprender com as coisas más, é das lições mais importantes que trago comigo.

Em miúdos falta-nos a noção e a compreensão. Em adultos, falta-nos o tempo, a paciência e a inocência.


Comentários

Mensagens populares deste blogue

3º Calhau a Contar do Sol

X - Acto

A história mais linda...